terça-feira, 27 de outubro de 2009

Nanoestruturas são mapeadas em 3D por pesquisadores brasileiros



Fábio de Castro - 27/10/2009
Combinando duas técnicas diferentes, pesquisadores do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP), desenvolveram uma metodologia inédita capaz de mapear em três dimensões a composição química de nanoestruturas.

De acordo com Antonio Ramirez, a metodologia determina a composição química tridimensional das estruturas com dimensões de poucos nanômetros a partir de imagens obtidas por meio de microscopia eletrônica de transmissão de alta resolução (HRTEM).

"Essas imagens foram obtidas com uma técnica conhecida como reconstrução por série focal (FSR), um procedimento usado para obter imagens livres das aberrações do sistema óptico do microscópio. Essas imagens, com alta qualidade e resolução de picômetros, foram aliadas à técnica de análise de fase geométrica (GPA), que permite um mapeamento bidimensional de distorções estruturais", disse Ramirez.

Deformações estruturais

Segundo o pesquisador, a abordagem adotada pelo grupo brasileiro consistiu em usar os resultados obtidos com a combinação das duas técnicas para calcular a composição química das nanoestruturas a partir das medidas de suas deformações estruturais.

"Essas distorções, em diferentes direções cristalográficas, forneceram informações tridimensionais sobre o arranjo químico das nanoestruturas, com resolução espacial em escala nanométrica. Ao combinar as técnicas, conseguimos reconstituir a composição química nanoestrutural dessas estruturas", disse.

O Laboratório de Microscopia Eletrônica (LME) do LNLS é um laboratório multiusuário, que recebe cerca de 150 pesquisadores por ano. Em seus 11 anos, tornou-se referência em microscopia eletrônica, especialmente na área de química.

Ilhas de germânio-silício

Para realizar a pesquisa, o grupo utilizou ilhas epitaxiais de germânio-silício. "Trata-se de um sistema clássico de semicondutores. Foi um dos autores do estudo, Gilberto Medeiros-Ribeiro, que desenvolveu esse sistema", disse Ramirez.

No sistema, o germânio é depositado sobre uma superfície de nanocristais de silício - que se caracteriza por ser bastante plana - previamente aquecida a uma temperatura de cerca de 500º C. Conforme as camadas vão sendo depositadas, o germânio forma estruturas piramidais - ou "ilhas" - sobre o silício.

"O germânio e o silício têm a mesma estrutura cristalina, isto é, seus átomos se organizam em ordem semelhante. Mas seus tamanhos são ligeiramente diferentes e, por isso, o acúmulo de diversas camadas do germânio provoca distorções tão pronunciadas que formam as ilhas. Parte do silício, no entanto, é puxada para dentro dessas estruturas", contou.

Medição de alta precisão

Ramirez explica que as características desse sistema de estruturas cristalinas já haviam sido medidas em outros trabalhos com o uso de difração de raios X. Mas trata-se de uma medição muito genérica, que pressupõe determinadas distribuições.

"No nosso caso, é como se tivéssemos produzido fotos da composição dessas estruturas a partir de vários ângulos. Com isso, temos informações obtidas a partir de várias direções e, com um tratamento matemático, começamos a fazer um mapeamento tridimensional da química da nanoestrutura", disse.

Segundo o pesquisador, um aspecto importante do trabalho é que, em vez de apenas utilizar os dados obtidos por microscopia eletrônica de transmissão, o estudo agregou conhecimento ao contribuir com o desenvolvimento de novas técnicas.

"Estando em um laboratório nacional, que oferece essas técnicas avançadas, é parte da nossa obrigação não apenas utilizá-las, mas ajudar a desenvolvê-las. Essa metodologia poderá abrir novas portas para o estudo e a caracterização de materiais tecnologicamente importantes em áreas como a eletrônica", disse.

Bibliografia:

Quantitative 3D Chemical Arrangement on Ge-Si Nanostructures
Luciano A. Montoro, Marina S. Leite, Daniel Biggemann, Fellipe G. Peternella, K. Joost Batenburg, Gilberto Medeiros-Ribeiro, Antonio J. Ramirez
Journal of Physical Chemistry C
Vol.: 113 (21), pp 9018-9022
DOI: 10.1021/jp902480w

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Inseto tem voo controlado por eletrodos implantados no cérebro



Pesquisadores da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, implantaram eletrodos controlados por chips neurais diretamente no cérebro de abelhas, besouros e mariposas, usando os dispositivos para controlar remotamente o voo dos insetos.

O resultado é fruto de um esforço de pesquisa que já dura vários anos. Em 2007, a mesma equipe conseguiu fazer com que um inseto ciborgue sobrevivesse ao implante dos chips.

O inseto ciborgue, que ainda não voava de forma controlada, foi utilizado por pesquisadores associados para controlar um robô. Os olhos do inseto funcionam como os olhos do robô, controlando seu movimento - veja Robô-mariposa integra cérebro biológico a robô.

Chip neurológico

Agora, finalmente os pesquisadores tiveram sucesso em controlar o comportamento e o voo dos animais.

O chip neurológico foi implantado em abelhas, besouros e mariposas. A mariposa Mecynorrhina torquata e os besouros foram capazes de levantar voo levando consigo o chip e o aparato de controle, que ainda é muito pesado para insetos menores.

Hirotaka Sato e Michel Maharbiz começaram controlando de forma independente as asas dos insetos. Para isso, os animais eram mantidos fixos em barras oscilantes.

O acionamento dos eletrodos implantados no cérebro dos animais faz com que eles batam suas asas com uma velocidade correspondente à frequência dos sinais elétricos. O implante é feito ainda durante a fase de pupa do animal.

Depois de conseguirem controlar de forma independente as duas asas, os pesquisadores instalaram uma versão sem fios do chip neurológico nos insetos maiores, que foram capazes de voar com eles, sendo controlados à distância no interior de uma sala.

Voo controlado à distância

Um pulso específico faz com que o animal inicie o voo. A seguir, ele pode ser induzido a virar numa ou noutra direção por meio do envio de estímulos para o músculo da asa do lado oposto à direção que se deseja que ele vire. Assim que o impulso cessa, o animal volta a voar em linha reta.

O controle ainda não é absolutamente preciso, sendo que os animais obedecem em 75% das vezes que os comandos são enviados. Um comando específico faz com que o animal pouse suavemente.

Controle sem fios

Somente agora que o princípio de funcionamento e o programa de controle tiveram seu funcionamento comprovado é que os pesquisadores começarão o trabalho de miniaturização do sistema de controle sem fios.

O dispositivo consiste de estimuladores neurais e estimuladores musculares, conectados diretamente ao cérebro do animal. Os eletrodos ligam-se a um microcontrolador, que por sua vez recebe os sinais de comando através de um receptor de rádio. Todo o equipamento é alimentado por uma microbateria de lítio, do tipo das usadas em relógios.

Todos os experimentos foram feitos em uma sala fechada, com antenas distribuídas que permitiram o controle dos animais à distância mesmo com a baixa potência do microrreceptor. Para voos mais altos, em ambientes abertos, o grande desafio será a alimentação do chip neurológico e de um sistema de rádio de maior potência.

Baterias são inviáveis, porque seriam pesadas demais para que o animal as carregue. Outras opções são capacitores, células solares e até mesmo atuadores piezoelétricos, que captem uma parte da energia necessária a partir da vibração das próprias asas do inseto.

Bibliografia:

Remote radio control of insect flight
Hirotaka Sato, Christopher W. Berry, Yoav Peeri, Emen Baghoomian, Brendan E. Casey, Gabriel Lavella, John M. VandenBrooks, Jon Harrison, Michel M. Maharbiz
Frontiers in Integrative Neuroscience
September 2009
Vol.: To be published

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=inseto-tem-voo-controlado-eletrodos-implantados-cerebro&id=010180091002

Google adquire programa de segurança ReCAPTCHA



O que são captchas?

O Google anunciou a aquisição do programa ReCAPTCHA, utilizado para oferecer mais segurança aos sites da Internet por meio de letras ou números que o usuário deve digitar quando interage com um site.

As letras, que aparecem como desenhos distorcidos, evitam a distribuição de spam e o uso de sites interativos por programas automatizados, já que o reconhecimento dos caracteres é possível para um ser humano, mas muito difícil para um programa de computador. CAPTCHA é um acrônimo para Completely Automatic Public Turing test to tell Computers and Humans Apart.

Captcha do bem

Existem inúmeros programas de Captcha disponíveis no mercado, a maioria gratuita. Mas o ReCAPTCHA é especial. Enquanto os outros programas apresentam caracteres aleatórios e simplesmente checam se esses caracteres foram digitados corretamente, o ReCAPTCHA mostra palavras extraídas de livros impressos que estão em processo de digitalização.

Assim, quando digitam as palavras, muitas vezes quase ilegíveis, os usuários dos sites que usam o ReCAPTCHA estão na verdade ajudando a digitalizar livros antigos, jornais e outros materiais impressos antes do advento dos computadores.

A possibilidade de ajudar uma causa nobre fez com que o ReCAPTCHA de proliferasse como erva-daninha pela Internet. Milhares de sites ao redor do mundo já o adotaram. Seu uso é gratuito. Durante seu primeiro ano de funcionamento, 1,2 bilhão de captchas foram resolvidos e mais de 440 milhões de palavras foram corretamente decifradas. Isso equivale à digitalização de 17.600 livros.

Corrigindo o OCR

Mas como o programa sabe que o usuário digitou a palavra correta? O sistema funciona assim: o software do ReCAPTCHA pega uma palavra conhecida e outra que não foi reconhecida pelo OCR (Optical Character Recognition), e apresenta ambas ao usuário. Se o usuário interpretou corretamente a primeira, o programa assume que a segunda também foi interpretada corretamente.

O mesmo conjunto é apresentado seguidamente a vários usuários, até que, estatisticamente, o programa tenha certeza de que a palavra foi mesmo reconhecida. O texto do livro é então atualizado e dado como corretamente digitalizado.

ReCAPTCHA

O ReCAPTCHA foi lançado em 2007 pelo pesquisador Luis von Ahn, da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, tendo logo se transformado em uma empresa, criada com o objetivo de divulgar e eventualmente comercializar o programa.

O Google não divulgou se pretende fazer alguma alteração nas diretrizes de uso do programa.

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=google-adquire-programa-seguranca-recaptcha&id=010175090916&ebol=sim