quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

CAD biológico permite projetar "máquinas vivas"

Componentes de RNA

Virtualmente qualquer projeto hoje usa, parcial ou integralmente, a plataforma CAD (computer assisted design), em alguma de suas inúmeras implementações.

Os ganhos em projetar tudo no computador, antes de partir para a construção final, são óbvios e bem comprovados.

Agora, biólogos e outros cientistas que lidam com as ciências da vida já podem contar com uma ferramenta similar - mas para manipular e reprojetar seres vivos.

Pesquisadores do Joint BioEnergy Institute, dos Estados Unidos, desenvolveram modelos e simulações similares ao CAD para trabalhar com moléculas de RNA.

Isto torna possível projetar componentes biológicos - "dispositivos de RNA", como os cientistas chamam o conceito -, um dos maiores sonhos da ainda muito controversa biologia sintética.

Máquinas biológicas

Esse campo emergente de pesquisas, que promete construir "máquinas biológicas" inspiradas em processos naturais, agora poderá contar com uma ferramenta que permitirá projetar em computador tudo o que se deseja que um micróbio qualquer - ou outro ser vivo - faça e, só depois, partir para a engenharia genética de fato.

Ficando apenas no lado positivo da questão, isto permitirá a "reconfiguração" de bactérias e outros microorganismos para a produção de biocombustíveis, plásticos biodegradáveis, medicamentos, enfim, uma lista inumerável de produtos que hoje são feitos sobretudo à base de petroquímicos.

"Nosso trabalho estabelece uma base para a criação de plataformas CAD para construir sistemas de controle complexos, baseados em RNA, que podem processar informações celulares e programar a expressão de um grande número de genes," diz Jay Keasling, coordenador da pesquisa.

Essa base permite não apenas o estudo de funções específicas do RNA, mas também sua modelagem bioquímica e biofísica, com vistas à sua "configuração" em organismos vivos, para que esses organismos cumpram funções que eles não fazem normalmente, ou otimizar funções que eles já possuam.

Reengenharia de seres vivos

Uma das possibilidades da nova técnica é reprojetar a genética de microorganismos para que eles sejam capazes de digerir celulose para produzir açúcares, a partir dos quais poderão ser fabricados os chamados biocombustíveis de segunda geração.

"Além de biocombustíveis avançados, nós também estamos interessados em projetar micróbios para produzir químicos a partir de matérias-primas renováveis, que são difíceis de produzir em grandes volumes usando a química orgânica tradicional," diz James Carothers, um dos membros da equipe que desenvolveu o "CAD biológico".

O grupo afirma que a criação de um CAD para a biologia sintética permitirá que pesquisadores de outras áreas utilizem a "reengenharia de seres vivos" - no sentido de reprojetar os seres vivos - em suas pesquisas.

"Nós estamos ativamente trabalhando para tornar nossos modelos e simulações mais acessíveis a pesquisadores que não querem se tornar especialistas em controle de sistema de RNA, mas que gostariam de usar nossa abordagem e os dispositivos de RNA em seu próprio trabalho," diz Carothers.

Do lado mais preocupante, devido à manipulação de seres vivos, os cientistas afirmam em seu artigo na revista Science que, apesar de estarem trabalhando com a bactéria E. coli e com a produção microbiana de biocombustíveis, eles acreditam que seus conceitos e suas ferramentas também poderão ser usados para "programar novas funções em células e sistemas de mamíferos".

Bibliografia:
Model-driven engineering of RNA devices to quantitatively-program gene expression
James M. Carothers, Jonathan A. Goler, Darmawi Juminaga, Jay D. Keasling
Science
23 December 2011
Vol.: 334 no. 6063 pp. 1716-1719
DOI: 10.1126/science.1212209
Site: invação tecnológica

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Máscara robô tem face verdadeiramente humana

Teleconferência
Projetar o rosto de um robô nunca foi fácil.
Os resultados vão desde o estilo desenho animado até alguns capazes de assustar crianças bem grandinhas.
Um grupo de pesquisadores japoneses e alemães encontrou uma solução criativa: projetar um rosto em uma máscara, dando movimentos realísticos à imagem projetada.
O resultado é uma máscara-robô, ou Mask-bot.
Segundo Gordon Cheng, da Universidade de Munique, a intenção primária é facilitar a comunicação entre humanos e robôs, sobretudo em teleconferências: "O Mask-bot irá influenciar a forma como nós humanos nos comunicaremos com os robôs no futuro."
Máscara-robô
O rosto é projetado sobre a máscara, usando uma técnica similar à das TVs de projeção: o projetor fica atrás da máscara, permitindo uma interação natural com os usuários, que não precisam se preocupar em ficar na frente do projetor.
Os pesquisadores desenvolveram um algoritmo que permite que qualquer rosto seja projetado em 3D, mesmo que tudo o que eles disponham seja uma foto comum do palestrante: o programa converte a foto 2D em uma projeção 3D.
Um projetor forte o suficiente e uma tinta luminescente recobrindo a máscara garantem que o brilho seja suficiente para que o rosto seja visto mesmo em ambiente aberto, à luz do dia.
"Normalmente, os participantes são mostrados em uma tela," diz o Dr. Takaaki Kuratate, coordenador da equipe. "Com o Mask-bot, você pode criar uma réplica realística de uma pessoa que realmente senta e fala com você na mesa de conferência."
E parece falar realmente, graças a um sistema inédito que os pesquisadores criaram que permite que a imagem projetada acompanhe a voz do tele-palestrante.
Para ser prática, a máscara-robô precisa funcionar sem exigir uma transmissão em tempo real do palestrante. Isso foi feito com um programa que ajusta em tempo real a imagem projetada para fornecer as expressões faciais e fazer a mímica da voz.
Para isso, os pesquisadores criaram um engine para uma cabeça animada falante. O sistma deve ser alimentado com uma série de imagens da pessoa - geralmente um pequeno trecho de um filme que a mostre falando.
A seguir, o próprio programa seleciona as expressões faciais que melhor equivalem a cada som - na verdade, a cada fonema que está sendo falado.
O mesmo ocorre com o mecanismo de "síntese de emoções", que mostra nuances emocionais capazes de indicar, por exemplo, alegria, tristeza ou raiva.

Máscaras personalizadas
Um sistema de sintetização de voz converte texto em áudio - incluindo texto digitado em um teclado - produzindo uma voz masculina ou feminina, que também pode ser ajustada para demonstrar emoções.
O sistema permite que se use uma máscara genérica feminina e outra masculina.
"Ou você pode fornecer uma máscara personalizada para cada pessoa," diz Kuratate.
O próximo passo é colocar todo o sistema em um robô assistente móvel.
Os pesquisadores afirmam que o sistema inteiro da máscara-robô custou cerca de 3.000 euros, mas o custo do Mask-bot II deverá ficar por volta dos 400 euros.
Além da videoconferência, "esses sistemas logo poderão ser usados como companhia para pessoas idosas que passam muito tempo sozinhas," disse Kuratate.

Tempo mundial pode mudar em 2012

Segundo bissexto
O tempo, tal como o conhecemos hoje, poderá não ser exatamente o mesmo tempo nos séculos que virão.
Tanto que os cientistas da área estão usando todo o seu tempo durante as festas de fim de ano para discutir uma nova definição da escala de tempo do mundo: o chamado Tempo Universal Coordenado (UTC).
E a principal questão em debate é o segundo bissexto - mais especificamente, a abolição do segundo bissexto.
Tempo tecnológico

Enquanto todo o mundo presta atenção aos anos bissextos, poucos sabem que uma "ajeitada" muito mais frequente no tempo, mas muito mais irregular, é feita constantemente.
Uma mudança que é essencial para manter o bom funcionamento dos sistemas de GPS, das telecomunicações, e até dos arquivos que você transfere pela internet.
O segundo bissexto surgiu no início da atual era tecnológica, em 1972. Ele é adicionado para manter a escala de tempo medida pelos relógios atômicos em fase com a escala de tempo baseada na rotação da Terra.
A razão para isto é que, enquanto os relógios atômicos, que usam as vibrações dos átomos para contar os segundos, são incrivelmente precisos, a Terra não é um cronometrista tão confiável quanto se acreditava - isto graças a uma ligeira oscilação que ela sofre conforme gira sobre seu próprio eixo:

"Desde a década de 1920 já se sabe que o movimento da Terra não é tão constante como tínhamos pensado inicialmente," explica Rory McEvoy, curador de "horologia" do observatório de Greenwich, no Reino Unido.
Essa variação natural da Terra significa que as horas medidas pelos relógios atômicos e as horas baseadas na rotação da Terra ficam cada vez mais defasadas conforme o tempo passa.
Assim, a cada poucos anos, antes que essa diferença cresça mais do que 0,9 segundo, um segundo extra - o chamado segundo bissexto - é adicionado ao tempo oficial, para colocar novamente os dois em sincronia.
"O Serviço Internacional de Rotação da Terra monitora a atividade da Terra, e eles decidem quando é apropriado adicionar um segundo bissexto em nossa escala de tempo," explica McEvoy.

Guerra do segundo

Um dos maiores problemas é que, ao contrário dos anos bissextos, os segundos bissextos não são previsíveis. Eles são erráticos, porque as oscilações da Terra - o chamado balanço de Chandler - não é regular.
Mas a tentativa de se livrar do segundo bissexto está causando um racha dentro da comunidade internacional que estuda o tempo, o que deverá ser decidido pelo voto, durante a Conferência Mundial de Radiocomunicações, da União Internacional das Telecomunicações (UIT), em janeiro de 2012, em Genebra.
Uma pesquisa informal feita pela UIT no início deste ano revelou que três países - Reino Unido, China e Canadá - são fortemente contra a alteração do sistema atual.
No entanto, 13 países, incluindo os Estados Unidos, França, Itália e Alemanha, querem uma nova escala de tempo que não tenha segundos bissextos.
Mas, com quase 200 países membros, a grande maioria deles ainda terá que revelar o que realmente pensa sobre o tempo.
O Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), em Paris, é a organização internacional de padronização que é responsável por manter o tempo do mundo.
A organização acredita que o segundo bissexto deve acabar porque esses ajustes estão se tornando cada vez mais problemáticos para sistemas que precisam de uma referência estável e contínua de tempo.
"Ele está afetando as telecomunicações, é problemático para a transferência de dados pela internet (como o Network Time Protocol, ou NTP), bem como dos serviços financeiros," diz o Dr. Arias Felicitas, diretor do BIPM.
"Outra aplicação que está sendo realmente muito, muito afetada pelo segundo bissexto, é a sincronização de tempo nos Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS). Os GNSS exigem uma sincronização de tempo perfeita - e segundos bissextos são um incômodo," completa Felicitas.
Tempos divergentes
Mas desacoplar o tempo civil da rotação da Terra também pode ter consequências a longo prazo.
"[Se você eliminar os segundos bissextos] o UTC irá se afastar continuamente do tempo baseado na rotação da Terra, fazendo-os gradualmente divergirem por uma quantidade crescente de tempo. Algo terá que ser feito para corrigir essa divergência cada vez maior," explica Peter Whibberley, cientista do Laboratório Nacional de Física do Reino Unido.
Em algumas décadas, isso equivaleria a um minuto de diferença. E, ao longo de centenas de anos, isso significaria uma diferença de uma hora entre o tempo dos relógios atômicos e a escala de tempo baseada na rotação da Terra.
Em 2004, foi proposta a ideia da troca dos segundos bissextos por um salto de uma hora, a ser feita uma vez a cada alguns poucos séculos.
Uma possível solução, se o segundo bissexto for abolido, seria atrelar essa "hora bissexta" às mudanças no horário de verão.
"Os países poderiam simplesmente acomodar a divergência não adiantando os seus relógios na primavera, apenas uma vez a cada poucos séculos, assim você altera o fuso horário em uma hora para trazer de volta tempo civil em conformidade com a rotação da Terra," propõe o Dr. Whibberley.