Encruzilhada da robótica
Uma pesquisa científica e a declaração de uma empreendedora acabam de resumir bem a encruzilhada ante a qual a robótica parece paralisada.
Antes vista como a "segunda computação", quando os robôs deveriam estar tão presentes nos lares de todo o mundo quanto os computadores, o campo ainda está distante de qualquer coisa como um "robô pessoal".
De um lado, equipes de cientistas tentam fazer verdadeiras máquinas humanas, mesmo reconhecendo o quanto isto está longe da realidade.
De outro, uma pesquisadora-empresária argumenta que, se é para a robótica ser prática, então os roboticistas devem ser práticos.
Ao menos por enquanto, a razão está claramente com um dos lados.
Robôs quase humanos
Se os robôs pretendem mesmo conviver com os seres humanos, eles precisarão antes serem aceitos pelos seres humanos.
E, para isso, é necessário que eles atendam às expectativas do cérebro humano e respeitem as sutis complexidades da comunicação verbal e não-verbal usada pelos seus criadores.
A conclusão, entre desafiadora e desanimadora, é de Maja Mataric e seus colegas da Universidade Sul da Califórnia, nos Estados Unidos.
"A forma como interagimos com máquinas com corpos é diferente da forma como interagimos com computadores, celulares ou outros aparelhos inteligentes. Nós precisamos entender essas diferenças para podermos atuar naquilo que é importante," diz a pesquisadora.
Depois de fazer experimentos com vários robôs humanoides, a conclusão do grupo de pesquisas de Maric é que não é suficiente trabalhar com a sintetização de voz e as comunicações verbais, porque as comunicações não-verbais são igualmente importantes para o ser humano, como a postura física e as expressões faciais.
Robôs terapêuticos
As pesquisas foram feitas usando os robôs para fins terapêuticos.
"Nós descobrimos que, quando nós adequamos a personalidade do robô à personalidade do paciente, as pessoas fizeram os exercícios de reabilitação por mais tempo e tiraram maior proveito deles," afirma.
Outra conclusão é que é necessário adequar a aparência do robô às suas capacidades.
Usando imagens de ressonância magnética para monitorar o funcionamento do cérebro dos pacientes, os pesquisadores concluíram que o cérebro não deixa passar despercebido a incompatibilidade entre o comportamento dos robôs e a sua aparência - sejam eles muito parecidos com humanos ou lembrem pouco os humanos.
Ou seja, na visão dos cientistas, não basta que os robôs se pareçam com seres humanos, eles precisam se comportar como seres humanos.
"Parece ser intuitivo construir robôs mais parecidos com seres humanos, mas nós descobrimos que isso não funciona a menos que a aparência humanoide seja igualmente acompanhada de ações similares às dos humanos," explica Ayse Saygin, membro da equipe.
Robôs práticos
Mas será que é realmente "intuitivo" que os robôs precisam se parecer com seres humanos?
Na realidade, o único sucesso de vendas da tão promissora robótica pessoal até agora nada tem de humanoide: é o pequeno robô aspirador de pó Roomba, de formato circular, que não fala e nem ouve.
Mas isso não o impediu de se tornar mascote de seus donos, que lhe dão nome, compram casinhas para ele e demonstram verdadeira paixão pelo pequeno servente doméstico.
É por isso que Helen Greiner, presidente da iRobot, fabricante do Roomba, fala com autoridade: "Se a robótica quer ter sucesso como a computação, o que importa é construir robôs práticos, que façam o trabalho bem-feito e de forma confiável - fatores que tendem a ser esquecidos quando as pessoas ficam fascinadas com esses 'brinquedos de festa' autônomos."
"Antes de colocarmos o Roomba no mercado, em 2002, [os grupos de pessoas com os quais a tecnologia foi avaliada] imaginavam que ele se pareceria com o Exterminador do Futuro empurrando um aspirador de pó - e nos disseram que não aceitariam uma máquina dessas em suas casas," lembra-se Greiner.
E não foi apenas o público que se apaixonou pelo aspirador de pó "inteligente": os cientistas também se renderam às evidências, e já estão utilizando o Roomba em suas pesquisas, como na recente demonstração de um rato-robô com cérebro de macaco.
Roboticistas práticos
Greiner defende que o que está faltando aos roboticistas é senso prático: "Tem havido muito barulho na imprensa sobre robôs matadores e robôs dançarinos. Mas o que os roboticistas por trás dessas aventuras precisam é de um check-up de realidade."
Segundo a executiva, o primeiro movimento prático rumo a uma robótica que chegue a todos os lares é que toda a comunidade de desenvolvimento de robôs se concentre em softwares padronizados como o ROS (Robot Operating System) e o Linux.
Isto porque, se a cada pesquisa os roboticistas tiverem que "reinventar a roda", os robôs não vão rodar, e muito menos andar.
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